Bônus verde pode trazer US$ 16 bi para o Brasil

Desde que assinou o Acordo de Paris, há dois anos, o Brasil se comprometeu a cortar emissões de gases de efeito-estufa em 43% até 2030, tomando como base os níveis de 2005, e a recuperar 12 milhões de hectares de florestas. Embora um compromisso como esse pareça difícil de atingir, a experiência de empresas mostra que aderir a novos modelos de economia e financiamento de seus negócios representa não apenas uma oportunidade mas também uma necessidade.

“A grave crise hídrica que atingiu o Espírito Santo se refletiu em baixa produtividade. Acredito que todas as empresas serão afetadas pelas mudanças climáticas porque fazemos parte de uma mesma cadeia”, diz João Augusti, gerente de meio ambiente florestal da Fibria, empresa que produz 5,3 milhões de toneladas anuais de celulose em seis Estados.

Para Augusti, é muito importante que as empresas façam o quanto antes a análise dos riscos envolvidos e que adotem planos de ação para mitigar os impactos. “Se as empresas não o fizerem, o mercado vai procurar as informações por conta própria. Querendo ou não, a performance de todos já está sendo medida. Agências de rating já recomendam quais merecem ou não investimentos segundo esses parâmetros”, ressalta o gerente da Fibria. A empresa, no início do ano, ingressou para a enxuta lista das que captam recursos por meio dos chamados “green bonds”, que só podem ser usados para financiar projetos sustentáveis.

Em janeiro a Fibria emitiu no mercado internacional títulos de dívida no valor de US$ 700 milhões, com vencimento em janeiro de 2027 e cupom de 5,50% ao ano. Em sua declaração de uso antecipado dos recursos, a empresa divulgou a aplicação do dinheiro na restauração de florestas nativas nos arredores de sua planta em Jacareí e no manejo florestal sustentável de sua fazenda em São José dos Campos (SP). Os investimentos também deverão contemplar projetos de manejo de resíduos, uso eficiente da água e geração de energia renovável.

Segundo a Climate Bonds Initiative, organização internacional que se dedica a estimular o mercado de dívida a direcionar investimentos a soluções para os problemas climáticos, em 2016 o mercado de bônus movimentou US$ 694 bilhões em títulos alinhados em alguma medida com a resolução de problemas climáticos, o que incluiu investimentos em transportes, energia, construções, manejo de resíduos e redução de poluição, reflorestamento e agricultura. Desse total, US$ 118 bilhões foram classificados como green bonds.

Para o Brasil, a organização aponta um potencial de captação de R$ 16 bilhões por meio de bônus verdes este ano. “Não dizemos mais que nosso ativo é a celulose ou o papel. Nosso ativo é o potencial florestal e somos questionados o tempo todo por parceiros e investidores sobre nossas certificações ambientais, sobre nossa situação em relação ao carbono. A nova economia já é uma realidade”, afirma Augusti.

Para o coordenador geral de meio ambiente e mudanças climáticas do Ministério da Fazenda, Aloísio Lopes Pereira de Melo, a possibilidade de obter financiamentos tendo por base entregar resultados sociais e ambientais cresceu bastante. No que diz respeito às discussões para implementar um mecanismo de precificação do carbono, compromisso que o Brasil assumiu concluir até 2020, Melo afirma que o governo tem se dedicado a estudar modelos que outros países já adotaram para identificar qual o melhor caminho a seguir.

Já adotada por muitos países, a precificação de carbono significa criar regras para que as empresas paguem impostos sobre o carbono que emitem e tenham um teto de emissões.

Fonte: Valor Econômico

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