Banhistas na represa Guarapiranga, em São Paulo – Rivaldo Gomes – 04.jan.19/Folhapress
Marcelo Moraes
Enio Fonseca
Recentemente, a Agência Nacional de Águas (ANA) publicou o Manual de Usos Consuntivos da Água no Brasil, que teve grande repercussão e foi noticiado por esta Folha, destacando que hidrelétricas gastam quatro vezes mais água que todo o consumo humano do país.
O estudo, que englobou levantamentos nos 148 reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN), afirmou que a evaporação dos reservatórios representou o segundo maior consumo de água no Brasil, atrás apenas da irrigação na agricultura.
Observou-se o conceito adotado pela ANA de que “um uso é considerado consuntivo quando a água é consumida, total ou parcialmente, no processo a que se destina, não retornando diretamente aos corpos hídricos de onde foi retirada”. 1
Ainda que o estudo contabilize a evaporação líquida em reservatórios como consumo, uma vez que ela não retornaria diretamente de onde foi retirada, temos claro que esse impacto apresentado como negativo seria significativamente inferior aos inúmeros aspectos positivos que a reservação de água teria para o ambiente, para as atividades produtivas, para a qualidade de vida e para a população como um todo.
O recente estudo “Evaporação e Regularização de Vazões nos Reservatórios do Setor Elétrico Brasileiro”, realizado por Antônio Eduardo Lanna, mestre e doutor em engenharia de recursos hídricos e saneamento ambiente, mostra evidências de que o efeito dos reservatórios do setor elétrico aumenta e não reduz as disponibilidades hídricas.
O levantamento é um cruzamento de dados da própria ANA, do Operador Nacional do Sistema (ONS), do Sistema de Informações do Potencial Hidrelétrico Brasileiro e da Eletrobras. Ele aponta que a evaporação de um reservatório, que certamente reduz a vazão média na seção do barramento, é normalmente compensada pela regularização promovida, que aumenta substancialmente as vazões de estiagem a jusante da seção fluvial.1
Sendo assim, a evaporação é compensada pelo aumento das disponibilidades em períodos de estiagem, quando a água tem maior valor. Além disso, um reservatório aumenta também a disponibilidade hídrica na área inundada. Ao ser ignorado o efeito benéfico da regularização promovida pelos reservatórios que causam a evaporação, existe risco de se atingir conclusões indevidas, penalizando a geração de energia hidrelétrica _uma fonte considerada renovável e de baixíssimo potencial poluidor.
Por fim, cabe destacar que a retomada da política de reservação de água é uma necessidade urgente para evitar a ampliação da escassez hídrica nas bacias hidrográficas brasileiras, aumentando a oferta de água para diferentes usos múltiplos e a segurança energética, observada a modicidade tarifária.
São os reservatórios que podem garantir a segurança nos eventos climáticos de escassez, a navegação, o turismo, a produção de energia, a água para a indústria e a irrigação, a produção de alimentos e, principalmente, o abastecimento humano e de animais.
Marcelo Moraes
Presidente do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico (FMASE)
Enio Fonseca
Vice-presidente do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico (FMASE)
Fonte: Folha de S. Paulo
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