Terminais portuários como figuras estratégicas para o enfrentamento da crise climática

O transporte marítimo é uma das principais fontes de emissão de CO2 e outros Gases do Efeito Estufa – GEE, seja nos portos ou ao mar. Segundo a International Maritme Organization – IMO, o transporte marítimo emite cerca de 1.076 milhões de toneladas de CO2 anualmente1 e é responsável por cerca de 2,5% das emissões globais de GEE. Desse montante, aproximadamente 70% das emissões ocorrem na área costeira, e desses, entre 60 e 90% ocorrem enquanto os navios estão atracados nos portos.2

Um artigo publicado em abril de 2021 pela Brink News definiu as cidades portuárias como “atores políticos estratégicos no esforço global para reduzir as emissões de GEE”, ressaltando ainda que é de vital importância que os portos se baseiem em “esforços colaborativos promissores no domínio marítimo” para a mitigação da crise climática3. O artigo destaca também que as cidades portuárias oferecem um caminho interessante, e muitas vezes negligenciado, para acelerar o processo de descarbonização da economia global.

A descarbonização é o processo de redução das emissões de dióxido de carbono por meio do uso de fontes de energia com baixo teor de carbono ou de otimização de processos industriais, visando alcançar uma menor emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Ocorre que a descarbonização dos portos não parece ser uma tarefa fácil, tão pouco barata. Os investimentos para tal podem incluir: embarcações híbridas, energia em terra, plantas e maquinários elétricos ou híbridos e medidas envolvendo eficiência operacional.

Para a maioria dos portos são as operações terrestres que geram a maior parte das emissões de GEE, como por exemplo, nas áreas de manuseio e armazenamento de cargas. Por isso, alguns terminais já estão aprimorando as suas operações em terra, com vistas a torná-las mais ecologicamente corretas.

É o caso de um terminal portuário europeu que, em maio de 2021, anunciou a sua participação no teste de um trator movido a hidrogênio, para avaliar o potencial do hidrogênio como um combustível de portos mais ecológico. O teste do trator, fabricado pela Terberg Special Vehicles, no Terminal Europa do Porto de Antwerp, localizado em Flandres, Bélgica, é o mais recente teste de tecnologia verde do terminal.

Um Guia focado em apresentar formas de reduzir as emissões de GEE nas interfaces navios-portos foi publicado em março de 2021 pela Global Industry Alliance em razão do Projeto IMO-Norway GreenVoyage2050. As medidas sugeridas pelo Guia incluem: facilitar a imobilização nos portos, permitindo que as manutenções e reparos do motor principal e também as limpezas ocorram simultaneamente com as operações de carga; otimizar o atendimento portuário, visando eliminar tempos de espera desnecessários, facilitando todas as autorizações antecipadas; otimizar a velocidade entre os portos, adotando a filosofia “just in time”, aprimorando o processo de chamada portuária e, em última análise, reduzindo as emissões de GEE.

Nesse sentido, é possível observar cada vez mais iniciativas de descarbonização do transporte marítimo. A Maersk, por exemplo, uma operadora logística dedicada a prestação de serviços de navegação marítima, anunciou que em 2024 apresentará a primeira série de oito navios porta-containers de alto mar capazes de operar com metanol neutro em carbono. 

Essa adoção de medidas ecologicamente corretas no transporte marítimo pode ser incentivada pelos próprios terminais portuários. Um exemplo disso é a aplicação de “taxas portuárias verdes”. A Autoridade Portuária de Hamburgo, na Alemanha, já em 2011, introduziu um desconto nas taxas portuárias para navios “eco-friendly”, com o objetivo de reduzir ainda mais a emissão de poluentes das embarcações marítimas.4

O papel dos terminais portuários, portanto, pode ser fundamental no esforço global para a redução de emissões de GEE. Assim, espera-se cada vez mais encontrar redes internacionais para o compartilhamento de melhores práticas e estratégias para avançar em direção a um transporte marítimo mais limpo e eficiente.


1 Dados referentes ao ano de 2018.

CHEN, Jihong et al. Constructing governance framework of a green and smart port. Journal of Marine Science and Engineering, v. 7, n. 4, p. 83, 2019.

3 ISBELL, P.; ÉDES, B. Port Cities Are Key to Reducing Maritime Carbon Emissions. Disponível em: <https://www.brinknews.com/port-cities-are-key-to-reducing-maritime-carbon-emissions/>. 

4 Disponível em: https://www.greenport.com/news101/europe/hamburg-introduces-green-port-fees

Publicado em: 04/10/2021

Por: Isabella Pedrini

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