Entenda por que o CEO da Tesla está repensando o uso das criptomoedas

Em maio deste ano Elon Musk voltou atrás em sua decisão de permitir que os carros Tesla pudessem ser adquiridos através de transações realizadas com Bitcoins, um tipo de criptomoeda criada em 2009. Em sua declaração, feita pelo Twitter, o CEO da Tesla disse: “A Tesla suspendeu as compras de veículos com o uso de Bitcoin. Estamos preocupados com o rápido crescimento do uso de combustíveis fósseis para a mineração e transações de Bitcoin, especialmente o carvão, que tem as piores emissões em relação a qualquer outro combustível”.1 Essa afirmação nos faz refletir sobre o funcionamento dessa tecnologia e como ela pode impactar o meio ambiente.

As criptomoedas são moedas digitais, ou seja, em sentido amplo, um meio de troca que não depende de bancos para a verificação de suas transações. O uso das criptomoedas está associado a um processo computacional chamado “mineração”. Este termo nos remete às já conhecidas minas de extração de ouro, carvão e outros minerais. Vale lembrar, inclusive, que o processo que ocorre com as criptomoedas não está muito distante disso. A mineração é o método de extração de minérios ou, no caso das criptomoedas, de geração de novas moedas. E ao mesmo tempo em que a mineração cria novas moedas, ela também realiza um procedimento de validação da tecnologia.

A mineração é realizada através da criptografia e da tecnologia de blockchain. Criptografia é o conjunto de técnicas derivadas de conceitos e cálculos matemáticos, chamados algoritmos, que codificam dados e a partir disso só podem ser decifrados por aqueles que possuem uma autorização. Ou seja, é um método de proteção de informações e comunicações através do uso de códigos. Blockchain, por outro lado, é um sistema que permite rastrear o envio e o recebimento de informações em uma rede. Assim, um blockchain pode ser definido como um banco de dados que armazena dados criptografados e os encadeia para formar uma “única versão da verdade” cronológica. 

Ocorre que, de acordo com o Índice de Consumo de Eletricidade Bitcoin do Digiconomist,as operações de mineração de Bitcoin em todo o mundo agora utilizam energia a uma taxa de aproximadamente 181,12 terawatts por hora.2 Segundo esse mesmo índice, uma única transação de Bitcoin utiliza praticamente a mesma quantidade de energia que uma família americana consome em média em dois meses. Em termos comparativos, essa única transação de Bitcoin também equivale a 1.910.417 de transações feitas por cartões VISA em pegadas de carbono. Isso porque o Bitcoin é baseado em uma rede descentralizada, onde suas transações são aprovadas por diferentes mineradores que simultaneamente resolvem equações complexas utilizando um hardware específico e uma quantidade considerável de energia.

Apesar disso, os entusiastas das criptomoedas não precisam desanimar. Novos dados da Universidade de Cambridge mostram que nos últimos meses houve uma migração drástica de mineradores ao redor do mundo, o que pode ter reduzido os impactos ambientais negativos do Bitcoin. Segundo o Consumer News and Business Channel – CNBC uma operação de criptografia na China que aconteceu em maio deste ano desencadeou uma reação em cadeia no mundo da mineração, fazendo com que quase metade dos mineradores de Bitcoin do mundo ficassem off-line praticamente da noite para o dia. Ou seja, um número menor de mineradores significa na prática menos impactos ambientais. 

Além disso, os mineradores agora estão migrando para lugares onde a energia é mais barata. Inclusive, o que tem sido buscado pelos mineradores é um tipo de energia que tenha origem em fontes renováveis. Ainda segundo o CNBC, os experts relatam que a partir de agora a rede Bitcoin será composta cada vez mais de plataformas mais eficientes em se tratando do consumo de energia, melhorando significativamente a relação segurança-energia da rede.

 Nesse sentido, Elon Musk voltou a considerar a possibilidade de aquisição dos carros Tesla através de transações realizadas com as criptomoedas. Foi o que a empresa Tesla afirmou, em um Relatório enviado à Comissão de Valores Mobiliários e de Câmbio dos Estados Unidos, no dia 25 de outubro: “Podemos, no futuro, retomar a prática de transacionar em criptomoedas (‘ativos digitais’) os nossos produtos e serviços”.3 Por isso, a aposta nas criptomoedas pode continuar – com a esperança de que as novas tecnologias tragam cada vez mais segurança e eficiência para esse sistema.


1Tradução livre. Texto original: “Tesla has suspended vehicle purchases using Bitcoin. We are concerned about rapidly increasing use of fóssil fuels for Bitcoin mining and transactions, especially coal, which has the worst emissions of any fuel […]”. Disponível em: <https://twitter.com/elonmusk/status/1392602041025843203?s=20>.

2Dados coletados no dia 27 de outubro de 2021.

3Tradução livre. Texto original: “We may in the future restart the practice of transacting in cryptocurrencies (‘digital assets’) for our products and services.”.

Publicado dia: 03/11/2021

Por: Isabella Dabrowski Pedrini

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